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Brazil
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Marcolina da Cidade da Palha

Marcolina da Cidade da Palha

The basics

Quick Facts

Places
Place of birth
Abeokuta
Place of death
Bahia
The details (from wikipedia)

Biography

A sacerdotisa africana Marcolina de Oxum Yèyé Oke (Abeokutá, 18?? - Bahia, 19??) viveu, provavelmente, entre a metade do século XIX e o início do séc. XX. Na Bahia, essa polêmicamatriarca, integrante da Irmandade da Boa Morte, ajudou a fundar ("plantar") inúmeros Axés e templos religiosos, que até hoje a infamam e renegam sua importância, tentando levá-la ao esquecimento ou deturpação de sua história. Seu templo foi um local sagrado de processos de hibridizações afro-brasileiras (igbominas, iorubas, fons, mussurumins etc.).


Alcunha

Essa sacerdotisa igbomina fora alcunhada e mais conhecida como Marcolina da Cidade de Palhapelo fato de residir numa localidade conhecida como "Cidade de Palha" (atual Cidade Nova - Salvador/Bahia). No entanto isso não lhe foi exclusivo, pois muitas localidades comunitárias de culto aos orixás, axé, foram também alcunhadas com o nome de sua localidade.

Origem africana

Segundo a literatura oral dos afrodescendentes igbominas, no Brasil, Marcolina nasceu em terra egbá, em Abeokutá, hoje capital do Estado de Ogun. Todavia, a mesma não era descendente da divindade Yemojá. Aos defensores da autenticidade e do purismo étnico, é importante ressaltar que não há pureza étnica no que tange ao ser humano. Logo, o mesmo vem em contínuos processos de hibridações (ou mestiçagens) desde sempre. O fato de ela ser iniciada e descendente de Oxum não interfere (ou contradiz) em sua natalidade em terra egbá. Em criança, ela fora iniciada e consagrada no culto à divindade e ancestral Oxum, tornando sacerdotisa de sua família e etnia.


Seu nome étnico era Òsunwoyin (transcrição fonética: Óxum-uóyin). Marcolina fora traficada no período da intervenção ativa da Inglaterra na proteção da cidade Abeokutá, a partir de 1850, para combater a facção escravista e a invasão daomeana. Chegara à Bahia (Brasil) ainda adolescente na condição de escrava (pertencia à Família Santos), trazendo consigo amarrada ao busto uma pequena pedra (okutá) de sua ancestral.

Trajetória

Chegada ao Brasil, com aproximadamente 16 anos, Marcolina é instalada como escrava, na Bahia. Contudo pouco ainda se sabe sobre sua trajetória nesse período do "fim" da escravidão. Sua alforria fora comprada por "irmãos e irmãs" de etnia ou religiosidade. Ainda não há dados mais esclarecedores sobre essa procedência..


Em Ilhéus, juntamente com os seus "irmãos" e "irmãs", deu início, em novo solo, ao culto a seus ancestrais, desenvolvendo seus conhecimentos étnicos acerca de Babá Egungun e as "Iyami Eleié".


Durante o período da escravidão e após a abolição da mesma, reside em outros lugares antes de Cidade Nova. Em Santo Amaro, Marcolina conhece um alufá africano, ex-escravo, que era iniciado para Obatalá, passando a morar com o mesmo em Cachoeira e em São Félix. Segundo o babalawo Adigun Olosun, autoridade religiosa de uma família real de Osun (estado), Marcolina é reconhecida como pertencente à família Otuokô, já que o africano com o qual ela viveu era dessa família. Esse africano malê, que a teve como "esposa", foi um alufá, um mussurumim. Os neófitos de Marcolina eram iniciados e apresentados ao culto de Ifá por ela e seu companheiro, o qual ensinava os ditames malês. Com a morte de seu companheiro, volta para Santo Amaro da Purificação, indo depois morar na "Cidade de Palha" (Cidade Nova).


O templo de Yiá Marcolina ficava na antiga Estrada das Boiadas, que, em 1823, passou a ser conhecida como Estrada da Liberdade (hoje, é nomeada Lima e Silva). Esse espaço sagrado, na altura da Cidade de Palha, era consagrado em homenagem ao ébórá (yorubá) de seu "marido" e de sua etnia igbomina, Obatalá, tendo em sua cumeeira o ibá (cabaça) contendo a pedra de Oxum. Marcolina Santos era uma sacerdotisa que seguia os conhecimentos religiosos da tradição de sua etnia e a do seu marido, não pertencendo a nenhum axé originado na Bahia. Pelo contrário, essa sacerdotisa fundou inúmeros axés. Sua casa era conhecida como candomblé mussurumim ou culto dos Alufás, ou seja, um templo dedicado à cultura negra malê. Em seu templo iniciou muitos neófitos, embora não haja dados acerca disso ou pessoas suficientes que a reconheçam como tal. É como se seu nome dela fosse apagado da história. Além de falar fluentemente o iorubá, conhecia muitas folhas. Foi a sacerdotisa do famoso Procópio d'Ogum.


Marcolina da Cidade de Palha tinha uma personalidade muito forte e não era bem vista, à época, por sacerdotisas de outras etnias ou afro-brasileiras. Essa mulher alta, forte, vistosa, comunicativa, de canela fina e negra massuda, embora não se importasse com a opinião de terceiros, era conhecida como brigona. Era capaz de ir à casa da pessoa e chamá-la para briga. Não admitia, por exemplo, que fosse chamada de "figueira do inferno". Por não querer seguir determinações de axés que estavam sendo fundados na Bahia, não aceitando subjugar-se, passou a ser foi odiada. Marcolina de Oxum foi a primeira sacerdotisa a iniciar um homem como elegum (rodante - incorporação) para um eborá, e não para ogam. Esse homem foi Procópio Xavier de Souza. Esse foi um dos motivos que causaram seu afastamento e apagamento. Todavia alguns respeitavam-na, como o povo do Jeje (Daomé), de Cachoeiras, de Boa Ventura, São Félix etc. Era amiga das também sacerdotisas Dionísia Francisca, Pulchéria, Massi, Bada etc.


O alufá Procópio d'Ogum também não era aceito em alguns templos religiosos (axés), na Bahia. Era odiado e pejorativamente considerado homossexual, simplesmente porque, segundo esses axés hegemônicos, homem somente poderia ser ogan, e não elegun. No entanto, por ser bastante brigão, impunha respeito à força.

Segundo Dazinha de Ogum (Bahia, 1916), Marcolina de Oxum, uma das fundadoras e detentoras dos segredos da Irmandade da Boa Morte, participou de sua criação quando pequena. Diz que era uma negra de pele fina, cabelo comprido, usando um pente largo no cabelo, intrépida e atrevida. Ajudou a criar inúmeras filhas do Ventura e do Capivari. Já idosa, volta para fazenda do Capivari, onde falece e é velada por senhoras integrantes da Irmandade. Marcolina ganhou o título de iyalodê da confraria à qual pertencia em seu país de origem.

A africana Marcolina de Abeokutá, ex-propriedade da Família Santos, ex-esposa do africano de Obatalá, sacerdotisa igbomina de Oxum, mais conhecida como Marcolina da Cidade de Palha, faleceu "afastada" e "esquecida" aproximadamente pelos idos de 1940, com quase 110 anos de idade. Segundo fontes orais, foi enterrada no Cemitério dosPretos, em Cachoeira (BA).

Iniciados e afilhado/as

Procópio d'Ogum

Estela (sobrinha)

Eudóxia

Dazinha de Ogum (Maria das Dores Conceição - afilhada)

Paulina de Oxum

Odeta de Oxaguian

Citações

Em Águas de Meninos (Bahia), Mãe Marcolina tinha uma banca em que vendia na feira fato (bucho) de boi e moqueca de fato de boi. Era especialista no assunto, uma grande cozinheira. No entanto, se alguém desaprovasse seu "fato", xingava e espraguejava a pessoa. Era uma iyalorixá bastante famosa, pois era muito procurada por seus conhecimentos religiosos. Esta última característica conferiu-lhe uma nota no jornal Diário de Notícias, de 9 de maio de 1905,em uma notícia policial tratando-a por Marcolina da Cidade de Palha (2º distrito de Santo Antônio). Nina Rodrigues também cita Marcolina, em Os Africanos no Brasil: "A autoridade policial abriu inquérito a fim de descobrir a verdade sobre o fato propalado da loucura da moça, que deu motivo ao cerco, constando chamar-se ela Eudóxia, e já se achar, em continuação do tratamento, no candomblé de uma tal Marcolina, na cidade de Palha, 2° distrito de Santo Antônio".

Segundo Penna, Marcolina de Oxum é reconhecida como a grande matriarca do Axé Obá Igbô Malê Igbomina (sociedade religiosa em homenagem ao povo igbomina), sendo sua trisavó de santo.


Obs.: Muitas dessas informações foram passadas pelo sacerdote Vicente do Matatu (gravação), que oficializou os ritos fúnebres de Procópio d'Ogum.

Referências

Bibliografia

  • LUCAS, Jonathan Olumide. A religião dos yorubas. Lagos, Livraria CMS: 1948
  • GEBARA, Alexsander L. de Almeida. A África presente no discurso Richard Francis Burton. São Paulo: USP.
  • LOPES, Nei. Enciclopédia Brasileira da Diáspora Africana. Rio de Janeiro: Selo Negro, 2004.
  • PENNA, Antonio dos Santos. Mérìndilogun Kawrí - Os Dezesseis Búzios. Rio de Janeiro: A. Santos Penna, 2008.
  • PENNA, Fábio Rodrigo. Um confraria dos igbominas no Brasil. Rio de Janeiro. F. R. Penna, 2011. Base textual para este artigo.
  • RODRIGUES, R. Nina. Os Africanos no Brasil. 6ª ed. Brasília: Universidade de Brasília, 1982.
  • D. Ishaq Al-Sulaimani. The Greater Igbo Nation - Identifying Igbo variants during the ERA of the slave trade. Cultural Education Institute of New Jersey.

Ver também

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