David Miranda
Quick Facts
Biography
David Michael Miranda (Rio de Janeiro, 10 de maio de 1985), vereador eleito pelo PSOL carioca em 2016, é jornalista e estrategista de marketing.
Nasceu e cresceu no Jacarezinho, coordenou a campanha pelo asilo a Edward Snowden no Brasil, e trabalhou ativamente junto ao seu marido Glenn Greenwald nas revelações dos programas secretos de vigilância global dos Estados Unidos, efetuados pela sua Agência de Segurança Nacional. Em 2013 foi detido pelo governo britânico justamente pelo trabalho que realizou sobre a vigilância em massa. Ativista LGBT e casado com Greenwald há 11 anos, filiou-se ao PSOL e foi eleito como o primeiro vereador LGBT na história da Câmara do Rio de Janeiro.
Vida pessoal
David Miranda nasceu no Jacarezinho, suburbio carioca. Sua mãe morreu quando ele tinha 5 anos. Nunca conheceu o pai, morou com a tia, a quem chama de mãe. Faxineira e mãe de 6 filhos. Aos 13 anos, parou de ir à escola e saiu de casa para ganhar o mundo. Dormiu na rua algumas noites e começou a trabalhar como engraxate. Trabalhou duro desde cedo pra poder sobreviver. Foi panfleteiro, limpador de carros, caixa. Aos 19, era atendente de telemarketing e morava com dois primos na favela do Rato Molhado, em Inhaúma, zona norte do Rio.
Conheceu Glenn em 2005 na praia de Ipanema, na altura da Farme de Amoedo, um famoso território ocupado há décadas por LGBTs, que se estende do mar pelos bares e restaurantes da rua até a Lagoa. David jogava futevôlei quando foi buscar uma bola e encontrou Glenn pela primeira vez. Não falavam um idioma em comum, mas conseguiram se entender tão bem que poucos meses depois estavam casados pelas leis brasileiras, mais avançadas na época do que as dos Estados Unidos. Casados há 11 anos, enfrentam o preconceito LGBT até hoje.
Vida pública
Caso Snowden
Glenn Greenwald, com quem David é casado, foi contatado por Edward Snowden no final de 2012. Ele também contatou a documentarista Laura Poitras em janeiro de 2013, que passou a trabalhar com Greenwald para preparar a publicação das denuncias de espionagem. David agenciou todas as publicações realizadas por seu marido. Os primeiros documentos foram publicados em 6 de junho de 2013. No Brasil, o programa Fantástico do dia 8 de Setembro de 2013, baseado em documentos fornecidos por Snowden a Greenwald, revelou que a NSA vem espionando a Petrobrás com fins de beneficiar os americanos nas transações com o Brasil.Ainda em 2013, em reportagem com a jornalista Sônia Bridi, Greenwald revelou que além de grandes empresas como a Petrobrás, a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, foi espionada pelo governo americano. A partir de então, as revelações têm provocado reação em todos os países do mundo e na comunidade de especialistas na segurança da Internet. Elas vão desde a participação nos programas de vigilância de empresas como Google, Facebook, Microsoft, a contaminação de computadores no mundo todo e a quebra dos códigos de criptografia da internet, fazendo toda a internet vulnerável a ataques, tanto pela NSA americana, como por predadores e criminosos.
Em agosto de 2013, Miranda foi detido pela Polícia Metropolitana de Londres quando fez escala na Inglaterra na viagem de volta de Berlim para o Brasil. Foi duramente interrogado e ficou detido por nove horas, incomunicável, sem lhe darem sequer o direito de fazer uma ligação telefônica muito menos contatar um advogado. Após o interrogatório, seu laptop, telefone, computador, câmera e outros objetos pessoais foram apreendidos. Para justificar sua detenção, a Inglaterra fez uso de lei britânica antiterrorista - o Anexo 7 do Terrorism Act 2000, o equivalente britânico do PATRIOT Act americano, considerando o brasileiro como suspeito de terrorismo A Anistia Internacional afirmou que Miranda foi "claramente vítima de uma injustificada tática de vingança" contra Greenwald. Por sua vez, o jornalista descreveu a detenção de seu parceiro como intenção de intimidação àqueles que têm vindo a escrever sobre a NSA e sobre a conivência do governo britânico com o sistema de vigilância global através do serviço de inteligência britânico, o Government Communications Headquarters (GCHQ). Desde então, Miranda processou a Polícia Metropolitana londrina. Em fevereiro de 2014, a Justiça Britânica considerou a detenção de David Miranda como sendo legal. Ele recorreu da decisão do tribunal londrino e obteve uma vitória. Os juízes estimaram que um artigo-chave desta lei antiterrorista promulgada no ano 2000 - mais especificamente seu anexo 7 -, que amparou a atuação policial contra David em Londres, é contrário à lei europeia e que portanto cabe ao Parlamento britânico mudá-lo.
Campanha por asilo a Snowden
David Miranda coordenou a campanha por asilo a Snowden no Brasil. Com a colaboração de coletivos de juventude como o Juntos e de organizações como o Avaaz, Miranda conseguiu coletar mais de 1,5 milhão de assinaturas pedindo que o governo de Dilma Rousseff acolhesse o ex-agente da NSA em solo brasileiro. Houve uma pressão forte para o apelo da campanha, muitas figuras públicas se engajaram, mas o governo rejeitou o pedido de asilo, que teve como ápice a “Carta aberta aos brasileiros” redigida pelo próprio Edward Snowden.
A campanha teve repercussão internacional, e ganhou notoriedade na mídia do mundo todo. A Rússia, que mantinha o ex-agente asilado temporariamente, prorrogou seu asilo em agosto de 2014 por mais três anos. Ele deu declarações em 2016 afirmando que voltaria aos EUA se recebesse garantias do Estado de um julgamento justo, em que possa defender suas causas junto à sociedade.
Eleições 2014
Nas eleições presidenciais de 2014, Luciana Genro foi a única candidata que se reuniu com David Miranda e Glenn Greenwald e se comprometeu com a campanha de asilo a Snowden no Brasil. A relação com o partido de Luciana Genro, o PSOL, foi estabelecida na campanha por asilo ao ex-agente da CIA coordenada por David Miranda no ano de 2013. A boa relação resultou na filiação de David Miranda ao Partido Socialismo e Liberdade.
Ativismo e trabalho político
Miranda tem como militância de vida a causa LGBT e a luta por direitos civis aos segmentos da sociedade que sofrem preconceitos. Desde muito cedo sofre por ser de origem pobre, negro e gay. Sua atuação com os movimentos organizados, no entanto, despontou no ano em que milhões de jovens tomaram as ruas e apolítica para si nas jornadas de junho de 2013. A partir dali, evento que coincidiu com seu trabalho junto a Greenwald e Snowden, sua atuação política organizada aumentou. Se engajou nas eleições de 2014, filiou-se ao PSOL e em 2015 iniciou um trabalho de ativismo com o coletivo Juntos: a Casa da Juventude no Rio de Janeiro. Trata-se de um território que reúne ativistas jovens de vários segmentos e pautas de toda a cidade, promovendo cultura, debate e midiativismo.
Também em 2015, a partir do trabalho com a Casa da Juventude, coordenou e formatou um documento internacional de proteção aos denunciantes do Estado, denominado Tratado Snowden. O Tratado foi lançado com o apoio de inúmeras personalidades do mundo todo e segue sendo trabalhado junto a especialistas dos direitos humanos internacionais para ser apresentado a ONU. A essência do Tratado é que se tenham normas internacionais sobre como os países devem se portar e proteger denunciantes como Edward Snowden.
Em fevereiro de 2016, Miranda coordenou uma campanha em defesa do programa estadual do Rio de Janeiro que combate a LGBTfobia: “SOS Rio Sem Homofobia”. No contexto de crise profunda do estado do Rio de Janeiro, o secretário de Direitos Humanos a época, o pastor fundamentalista Ezequiel Teixeira, cortou verbas e inviabilizou o prosseguimento do programa Rio Sem Homofobia. Diversos setores da sociedade e da comunidade LGBT se mobilizaram para defender a manutenção do programa. A campanha tocada por Miranda e a Casa da Juventude contou mais uma vez com o engajamento de jovens ativistas e personalidades brasileiras. O programa foi resgatado e o pastor deixou a pasta de direitos humanos.
Em julho de 2016 Miranda protagonizou o principal embate do ano contra o Grupo Globo e um de seus herdeiros, João Roberto Marinho. Diante da grave crise institucional do país, da articulação golpista para derrubar Dilma Roussef e o papel grotesco da mídia corporativista do país, sobretudo do Grupo Globo, Miranda foi uma voz fundamental de denúncia e repercussão do que estava acontecendo em nosso país para o mundo todo. Seu artigo no The Guardian denunciando o papel da mídia e seu oligopólio no Brasil teve ampla repercussão internacional e desnudou mais uma vez a ausência de democracia nos meios de comunicação brasileiros. Marinho pediu direito de resposta no jornal e, com uma resposta cínica, foi publicado nos comentários do artigo de Miranda. Em seguida, Marinho recebeu mais uma resposta de Miranda, desta vez no The Intercept.
Em agosto de 2016 disputou as eleições proporcionais na cidade do Rio de Janeiro pelo PSOL. Foi eleito como um dos 6 vereadores do partido na cidade e irá compor a segunda maior bancada do Palácio Pedro Ernesto. David Miranda entra para a história da cidade sendo o primeiro vereador LGBT a assumir uma cadeira na casa.