Manuel Alves de San Payo
Quick Facts
Biography
Manuel Alves de San Payo (Melgaço, Portugal, 16 de Abril de 1890 - Lisboa, Portugal, 8 de Maio de 1974) foi um cineasta, conferencista, publicista e aclamado fotógrafo retratista português, com atividade entre os anos 20 e os anos 50 do século XX. É considerado
um dos mais bem sucedidos mestres fotógrafos portugueses, tendo ficado conhecido pelo seus retratos de várias figuras notórias da sociedade, artes e vida política portuguesa.
Biografia
Natural do lugar de Baratas, freguesia de São Paio, em Melgaço, na vila mais setentrional de Portugal, Manuel Joaquim Alves nasceu a 16 de Abril de 1890, filho de Manuel Joaquim Alves e Maria Angélica Afonso Alves, ambos naturais de Melgaço, adotando posteriormente o nome Manuel Alves de San Payo, em homenagem à sua freguesia de origem. Proveniente de uma família modesta mas progressista, devido à importância que os seus pais deram à educação dos seus sete filhos, ainda jovem ingressou no Seminário de Santo António e São Luís de Gonzaga, em Braga, tendo completado os estudos preparatórios em 1909. Contudo com dezanove anos de idade, juntamente com um vizinho, abandonou o seu percurso académico e embarcou no navio alemão ”Bahia”, rumo ao Brasil.
Após trabalhar alguns anos no Rio de Janeiro, na área do comércio, Manuel Alves decidiu retomar os estudos. Frequentou o Liceu de Artes e Ofícios, onde aprendeu desenho, e posteriormente fez o exame de admissão à Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, tendo frequentado as aulas de desenho e pintura durante um ano. De modo a financiar os seus próprios estudos, empregou-se como retocador de chapas na oficina e estúdio do fotógrafo português Bastos Dias, até começar a dedicar-se a tempo inteiro e por conta própria a este ofício. Durante essa época, para além de aprofundar os seus conhecimentos artísticos na área da fotografia, começou também a aventurar-se no mundo do cinema e em 1916 realizou os filmes "A Quadrilha do Esqueleto", "A Cabana do Pai Tomás", baseado no romance "Uncle Tom's Cabin" de Harriet Beecher Stowe, "O Senhor de Posição" e vários documentários. Em 1918, abandonou o Rio de Janeiro e fixou residência em Petrópolis, onde conheceu a sua futura esposa Erna Ana Jandira Hees Belger, descendente de colonos alemães, fundadores dessa cidade brasileira, e abriu um atelier de fotografia na Avenida 15 de Novembro.
Em Outubro de 1920, Manuel Alves de San Payo regressou a Portugal com a sua esposa Erna. Um ano depois, após um inicial período de adaptação e com a ascensão do reconhecimento da sua arte e do seu nome pela alta sociedade portuguesa de então, abriu o seu primeiro atelier em terras portuguesas na Praça dos Restauradores, em Lisboa. Rapidamente começou a ser convidado para realizar exposições nas mais respeitáveis galerias de arte da capital, notadamente na Casa Castanheiro Freire (1924) e na Casa Aguiar (1925). Fruto da sua crescente notoriedade, não só em território nacional como além fronteiras, realizou exposições no Brasil, nomeadamente em Petrópolis (1925) e no Rio de Janeiro (1926), e em Espanha, no Hotel Ritz de Madrid (1925).
A 20 de Fevereiro de 1930, abriu na Praça do Marquês de Pombal, em Lisboa, o seu novo atelier, sendo noticiado em vários periódicos e revistas que a festa de inauguração estava repleta de figuras conhecidas, desde escritores, pintores, políticos, músicos e actores que recorriam frequentemente aos seus serviços de fotógrafo retratista.
Em Julho de 1934, a sua esposa Erna faleceu com apenas trinta e sete anos de idade. Fruto do seu casamento, ficaram seis filhos: Ruth, Lydia, Nuno, Walter, Irene e Vasco. Profundamente magoado com a sua perda, Manuel Alves de San Payo entregou-se ao trabalho e começou também a escrever artigos da especialidade, passando a colaborar periodicamente em diversos jornais, tais como "A Voz", "Novidades", "Diário de Lisboa" ou o "Objectiva", realizou conferências na Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa, intituladas “A Fotografia e o Futurismo” e “Como se deve Encarar a Crítica da Arte”, assim como na Sociedade de Propaganda de Portugal, com o nome “Luz e Sombra e o Processo do Bramélio”, e aceitou o convite da revista "O Mundo Português" (1934-1947), apoiado pela Agência Geral das Colónias (AGC) e do Secretariado da Propaganda Nacional (SPN), para filmar o documentário "I Cruzeiro de Férias às Colónias Ocidentais" (1936) a bordo do paquete "Moçambique", idealizado por Marcelo Caetano.
Considerado por muitos como o fotógrafo do Estado Novo e dos seus ministros, sendo bem conhecidos os inúmeros retratos oficiais que tirou a Óscar Carmona, Francisco Craveiro Lopes, Júlio Botelho Moniz, António de Oliveira Salazar, Américo Tomás e Marcelo Caetano, Manuel Alves de San Payo foi condecorado com o Grau de Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada a 11 de Dezembro de 1948.
Em questões de trabalho, considerava-se apolítico, explicando que não se considerava um fotógrafo do regime, mas sim que "o regime é que era seu cliente”. No seu portfólio, para além de ministros, generais e altas figuras do regime ditatorial, Manuel Alves de San Payo era também o retratista habitual ou até mesmo oficial de inúmeras figuras da sociedade portuguesa, fossem de qualquer profissão e espectro político, tais como os pintores Almada Negreiros, Alfredo Roque Gameiro, Thomaz de Mello (Tom), João Carlos Celestino Gomes, Domingos Maria Xavier Rebelo, Maria de Lurdes de Mello e Castro, Jorge Barradas, as actrizes Mariana Rey Monteiro, Corina Carlos Freire, Luísa Satanella, Rosa Lobato de Faria, os escritores Aquilino Ribeiro, Oliva Guerra, José Maria Ferreira de Castro, Matilde Rosa Lopes de Araújo, António Alves Redol, Virgínia Vitorino (Madame Martinho), as cantoras Saudade dos Santos, Madalena Iglésias, Paula Ribas, os políticos ou estadistas Baltasar Leite Rebelo de Sousa, António Sérgio de Sousa, Henrique Mitchell de Paiva Couceiro, António Luís Gomes, Plínio Salgado, Duarte Pacheco, Mário Soares, o marechal Humberto Delgado, o jornalista Joaquim Manso, o cardeal patriarca de Lisboa Dom Manuel Gonçalves Cerejeira, o botânico Mário de Azevedo Gomes, ou até vários membros da Casa de Bragança e de outras monarquias europeias, como a Rainha Dona Amélia de Orleães e Bragança, Dom Duarte Pio de Bragança, Dom Miguel de Bragança, D. Maria da Nazaré Monteiro de Almeida Daun e Lorena, Marquesa de Pombal, e o Príncipe de Bourbon, Francesco Saverio de Bourbon-Parma.
Nunca esquecendo as suas origens, nos anos 60 regressou não só a Melgaço, sua terra natal, para construir, na freguesia de São Paio, uma casa de férias para si e seus descendentes, como também ao Brasil, após quarenta anos afastados. Quando regressou, publicou as impressões da sua viagem no suplemento "Letras e Artes", do jornal "Novidades", com o título «Memórias de um Fotógrafo».
A 8 de Maio de 1974 Manuel Alves de San Payo faleceu. Encontra-se sepultado no cemitério de São Paio, em Melgaço, junto de sua esposa Erna Belger.
Galeria
Retrato de António de Oliveira Salazar (1940) por Manuel Alves de San Payo
Retrato de António Óscar de Fragoso Carmona (1940) por Manuel Alves de San Payo
Retrato do General Francisco Craveiro Lopes (1951) por Manuel Alves de San Payo