Hermínio Martins
Quick Facts
Biography
Hermínio Martins (Maputo, 1934 - Oxford, 19 de agosto de 2015) foi um sociólogo português, autor, professor emérito da Universidade de Oxford (St Antony's College), e investigador honorário do Instituto de Ciências Sociais (Universidade de Lisboa).
Formação
Hermínio Martins nasceu na cidade que à época era Lourenço Marques, licenciou-se na London School of Economics, onde estudou sociologia e filosofia da ciência e do conhecimento científico com Karl Popper, filosofia política com Michael Oakeshott, e teve Ernest Gellner como orientador de pós-graduação. Começou a lecionar na Universidade de Leeds, onde conviveu com John Rex e Jerome Ravetz. Trabalhou também na Universidade de Essex, onde foi um dos fundadores do departamento de sociologia. Lecionou também nas universidades da Pensilvânia e de Harvard, na época de ouro da sociologia nesta instituição de ensino, participando de seminários e debates com Talcott Parsons, George Homans, Seymour Martin Lipset, David Riesman, e com integrantes da geração posterior, como Harrison White e Gerald Platt. Voltou à Inglaterra, ingressando no St Antony's College da Universidade de Oxford, para lecionar Sociologia da América Latina, de 1971 a 2001. Segundo John Rex, alguns episódios da trajetória pessoal e profissional de Hermínio Martins foram:
Marco da sociologia britânica
Durante o longo exílio, Hermínio Martins tornou-se, segundo Roland Robertson, um dos principais nomes das ciências sociais na Grã-Bretanha, permitindo a consolidação do interesse acadêmico no "mundo como um todo", na ciência social comparativa, e nos mais variados temas históricos . Para Hermínio Martins, sobretudo nas ciencias sociais impera a lógica do "nacionalismo metodológico", do pensamento nacional no financiamento, na competição por inovação e nas políticas de fomento, em que a "comunidade nacional constitui a unidade terminal e a condição limite para demarcação de problemas e [de] fenômenos" . Nesse mesmo sentido, seu nome também é citado em A History of Sociology in Britain, de A. H. Halsey, como um dos mais importantes professores - ao lado do italiano Poggi, do polonês Andreski, do alemão Dahrendorf e do americano Birnbaum - que contribuíram para o caráter internacional da sociologia britânica. Não admira ter sido o primeiro sociólogo a ser incluído, por indicação de Imre Lakatos, no comitê da British Society for the Philosophy of Science.
Hermínio foi o primeiro cientista social português a receber, em 2006, o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Lisboa. Até então apenas estrangeiros foram reconhecidos assim, dentre os quais, e talvez o primeiro, o brasileiro Florestan Fernandes, galardoado pela Universidade de Coimbra. A razão foi ser considerado por boa parte da comunidade acadêmica como um dos fundadores da sociologia portuguesa.
Sociologia, ciência reflexiva
Hermínio Martins propõe que a sociologia seja uma "disciplina historico-filosoficamente reflexiva". Segundo ele, "qualquer concepção adequada do conhecimento científico deve envolver uma profunda compreensão da sua história", o que se aplica tanto às ciências naturais como às sociais. No caso específico da sociologia propõe um "racionalismo temperado histórica e claro que também sociologicamente perto das orientações sociológico-filosóficas centrais de Durkheim". A estrutura lógica de sua sociologia se aproxima das meta-disciplinas (lógica, epistemologia, e mesmo a filosofia no seu conjunto), "no sentido em que o mundo social é constituído pelas significações simbólicas e tipificações dos actores dentro dele, e portanto a análise sociológica é forçosamente [...] uma reflexão sobre construtos pré-datados" (p.158).
Coerente com essa postura identifica na comunidade académica e no dia-a-dia um modo prático de encarar a vida, segundo uma lógica problema-solução, ametafísica, apoética, aliterária, ateológica, anestética, de "não-musicalidade religiosa" (Weber) e de "cegueira metafísica" (Scheler), que estigmatiza todos que fogem da norma instrumentalista, cujo 'tipo-ideal' é o engenheiro, crente na soberania da técnica e concebendo a conduta racional como um comportamento que tende exclusivamente a um
propósito ou meta específica, guiada por um cálculo consciente dos meios para conseguir um fim. A sociologia, nesse sentido, deveria estudar apenas os fatos, mensuráveis, substância única da vida, sem lugar para o irreal, o contrafatual, os ideais e as idealizações(p.31). Martins, por sua vez, ressalata que a principal tarefa da sociologia é "crítica das utopias", dos ideais, das imagens do futuro que os atores projetam e pelas quais anseiam. Inconsciente dessa tarefa, a sociologia convencional mergulha no estudo de "topias" (G.Landauer) focado no estado de coisas vigente em um dado momento, em determinada sociedade, descrevendo tooas as suas contingências e particularidades, e sempre de uma forma axiologicamente "neutra", sem tomar partido, sem participar de conflitos.
Bibliografia
- Como autor:
- Experimentum Humanum – civilização tecnológica e condição humana. Relógio D'Água, Lisboa, 2011; Fino Traço, Belo Horizonte, 2012.
- Classe, status e poder – ensaios sobre o Portugal contemporâneo. Imprensa de Ciências Sociais, Lisboa, 2006.
- Hegel, Texas – e outros ensaios de teoria social. Século XXI, Lisboa, 1996.
- Como organizador:
- Knowledge and passion – essays in honour of John Rex. Londres, I. B. Tauris/ Nova Iorque, St Martin’s Press, 1993.
- Democracia, crise e reforma – estudos sobre a era de Fernando Henrique Cardoso (com Maria Ângela D’Incao). Paz e Terra, São Paulo, 2010.
- Dilemas da civilização tecnológica (com José Luís Garcia). Imprensa de Ciências Sociais, Lisboa, 2003.
- Debating Durkheim (com William Pickering). Routledge, Londres, 1994.
- Max Weber’s 'Science as a vocation' (com Irving Velody e Peter Lassman). Allen and Unwin, Londres, 1989.
- Death in Portugal – studies in Portuguese anthropology and modern history (com João de Pina-Cabral e Rui Feijó). Journal of the Anthropological Society of Oxford, Lisboa, 1985.
- Scientific establishments and hierarchies (com Norbert Elias e Richard Whitley). Reidel, Dordrecht, 1982.
Referências
Outras:
Entrevista a Revista Nada