Abigail de Paiva Cruz
Quick Facts
Biography
Abigail de Paiva Cruz (Porto, 28 de Abril de 1883 — Lisboa, 8 de Outubro de 1944) foi uma pintora naturalista, escultora, tecedora de rendas e activista feminista.
Biografia
Nascida no Porto, a 28 de Abril de 1883, Abigail de Paiva Cruz era oriunda de famílias burguesas de classe alta mas progressistas, que lhe proporcionaram uma educação e formação primorosa desde muito jovem até à idade adulta, mesmo quando à época, não era incentivada a instrução das mulheres nos ramos da medicina, advocacia ou das artes, por estes estarem associados a profissões masculinas.
Contrariando o pensamento da altura, Abigail ingressou na Academia Portuense de Belas-Artes, tornando-se discípula do pintor João Marques de Oliveira e aluna do escultor António Teixeira Lopes, ainda antes da Primeira República, complementando posteriormente a sua formação de Belas Artes em Paris.
Durante a sua estadia em França, nos anos da Belle Époque, inseriu-se rapidamente no efervescente e agitado meio artístico da cidade, travando fortes relações de amizade com pintores, escritores, músicos e até algumas proeminentes figuras da alta sociedade francesa e mundial, tais como com o escritor e poeta Alphonse Métérié, com o qual manteve por vários anos uma longa correspondência, após o conhecer em 1910, na clínica La Colline, na Suiça, enquanto recuperava de fadiga. Nesses mesmo anos, Abigail começou a expandir o seu portfólio e a experimentar novos meios, não só com a criação de novos quadros pintados a óleo de estilo naturalista e algumas estatuetas, como também através da arte dos bordados e rendas, onde se destacou nitidamente pelos seus motivos portugueses, urdidos graciosamente à maneira de Flandres.
Com a ameaça de uma iminente guerra mundial em França, Abigail de Paiva Cruz regressou a Portugal, e em Março de 1914, realizou a sua primeira exposição a solo no Palácio de Crystal, na cidade do Porto, que contava com quarenta e quatro quadros da sua autoria.[1]
Nos seguintes anos, realizou novas exposições em Lisboa, no Salão Bobone (1917), onde as vendas das suas obras revertiam para a o movimento de beneficênciaCruzada das Mulheres Portuguesas , liderado pela Primeira Dama Elzira Dantas Machado, que ajudava as famílias dos soldados portugueses destacados na Primeira Guerra Mundial, e na Liga Naval (1920), assim como em Paris, na Casa Fast (1925), e ainda em Madrid, sendo esses eventos várias vezes noticiados em inúmeros periódicos e revistas, como O Século, O Ocidente, ABC, Terra Portuguesa, Ilustração Portuguesa, Ecco Artístico, ou ainda as revistas luso-brasileira Atlântida, a espanhola Blanco y Negro ou a lisboeta Vida Feminina, onde a escritora e jornalista Sara Beirão lhe dedicou um artigo de página inteira, elogiando o seu trabalho artístico na arte das rendas e o seu merecido reconhecimento a nível internacional, enquanto relembrava os ministros e o estado português a importância de apoiar os artistas nacionais e seus feitos.
Usufruindo do seu sucesso, em 1931, Abigail de Paiva Cruz abriu uma escola de rendas em Lisboa, na Rua das Picoas, nº 9, com o intuito de apoiar não só as artes de cariz mais tradicionais como a proporcionar a instrução de um ofício às mulheres, criando a oportunidade destas ganharem o seu sustento e independência financeira. Devido a esta iniciativa, foi convidada pela revista Portugal Feminino a criar nas suas páginas um curso de aprendizagem de rendas de agulha, bilros e croché para as suas assinantes.
Nesse mesmo ano, ingressou a convite da vice-presidente, Sara Beirão, no Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, uma organização feminista, dedicada à defesa dos direitos sociais e políticos das mulheres, juntamente com a pintora Emília Adelaide dos Santos Braga, onde exerceu variadas funções, desde secretária (1936-1937) a presidente da comissão de Arte (1938). Durante esses anos, colaborou intensamente com inúmeras escritoras, artistas, professoras, médicas e outras activistas feministas no melhoramento das condições de vida e reinvindicação de direitos das mulheres em Portugal. Dentro do movimento, trabalhou sobretudo em conjunto com as escritoras Ana das Neves Patrício Álvares, Beatriz Arnut, Branca de Gonta Colaço e a pintora Eduarda Lapa.
Faleceu em Lisboa, a 8 de Outubro de 1944, com 61 anos de idade.